AH, o nosso bom e velho amigo, o tempo. Senhor de todas as coisas (mentira), me fascina e me desespera, carrega consigo todas as vontades, todos os desejos e todas as memórias. Me abraça forte, me sussurra ao ouvido palavras doces e vai embora, escorre, se esvai. Pulsa forte dentro de tudo e fora daquilo que mais lhe parece.
Tranca meu cérebro em vida, parca, lenta e dolorosa, falha, incompleta, precisa de ti, o que é intangível e acima de tudo, me a trouxe e foi-se com ela. Gargalha da minha insanidade, da minha burrice, do meu desejo tolo de compreender-lhe em tudo que é. e eu, criança, sonhador, caiu nas tuas garras, acredito no teu lamento e penso, ingenuamente, que consiguirei descobrir os teus segredos.
Assim tu és, cruel, impassível, soberano. Estende tua mão por tudo o que permeia o existente e o inexistente. Tuas lágrimas não são para nós, tuas lágrimas se quer são. Tuas lágrimas, guardas para ti mesmo. Mereces mais do que tudo, a dúvida e a contemplação. Deliram-se os poetas, assim como eu tento delirar agora. Mas o que busco, ainda que muito lhe pareça, não é a loucura ou a belza, o poema perfeito, a descrição metafórica. Não, o que busco é a certeza, aquela velha certeza, simples, chata e clara. Sem rodeios, sem enfeite. E mesmo sabendo que não posso alcansá-la, procuro.
Tu corróis tudo, meu corpo, minhalma, que já não existe mais, não existe mais nada, só tu, e me tomas junto ao peito e me carrega embora. Lá vem vindo a cria nova, aqueles que pouco sabem, que pouco conhecem e tu olhas sínico e lhes mostra um sorriso apetitoso. Vai começar tudo outra vez!